quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

JUVENTUDE CATÓLICA CRITICA REMANEJAMENTO 'POLÍTICO' DE PADRES EM SÃO PAULO

Arcebispo Dom Odilo Scherer, conservador, estaria afastando párocos progressistas de suas comunidades de origem.

por Eduardo Maretti, da RBA publicado 08/01/2014 12:14, última modificação 08/01/2014 17:53


São Paulo – Grupos da Pastoral da Juventude da Igreja Católica e paroquianos inconformados prometem fazer manifestações se não conseguirem, no mínimo, obter explicações do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, sobre as transferências consideradas políticas de párocos da região episcopal do Ipiranga, anunciadas no fim do ano.
Sem aviso prévio, Scherer substituiu padres considerados progressistas ou moderados para “colocar nas paróquias pessoas com a visão dele, para ele ter maior controle”, dizFelipe Santana, do movimento “Juventude Contra O Príncipe”, apoiado pela Pastoral .
Odilo Scherer é da ala da igreja conservadora ligada aos ex-papas João Paulo II e Bento XVI. Na eleição presidencial de 2010, bispos brasileiros conservadores conseguiram, após reunião com Bento XVI, uma declaração contra a campanha da então candidata Dilma Rousseff à presidência da República.
"Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático, que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade da pessoa, é traído em suas bases", disse o sumo pontífice na época.
Às vésperas da mesma eleição, a polícia apreendeu um milhão de panfletos assinados por três bispos ligados a um braço da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) com ataques ao PT e à candidata do partido.
Segundo texto divulgado pela “Juventude Contra O Príncipe”, a medida de Odilo Scherer atinge, por exemplo, a paróquia de Santa Rita de Cássia, da qual o pároco progressista Celso Paulo Torres, com forte e antiga ligação de 24 anos com a comunidade, vai ser transferido para outro local e será substituído pelo conservador Jorge Bernardes. As tentativas dos paroquianos de conseguir uma audiência com dom Odilo Scherer, até o momento, não tiveram resposta.
As manifestações não têm data definida, mas, segundo Santana, podem ocorrer ainda este mês, se Scherer não receber os paroquianos e justificar a medida, considerada arbitrária e sem justificativa. De acordo com os jovens, houve o caso de um padre que soube de sua transferência pelo Facebook.
Para a paroquiana Dora Galhano, do Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo (Clasp), a comunidade da paróquia de Santa Rita foi surpreendida com a notícia da troca do pároco no último fim de semana. “Se tivesse havido diálogo, não teria sido tão chocante”, afirma. Mas, para ela, não há motivação política na medida do arcebispo. "Para mim, ficou claro que é uma medida administrativa e não política. Aceitamos as ordens do arcebispo", ressalva.

Papa Francisco

Em algumas paróquias, as comunidades nas quais houve a intervenção do arcebispo estavam acostumadas com o diálogo e uma visão de “igreja circular” (baseada no diálogo), em oposição à “igreja piramidal” (em que prevalece a hierarquia). Nelas, a pastoral habitualmente tem voz e se esperava que, com o papa Francisco, o diálogo fosse prevalecer aqui.
Segundo Cássia Lima, catequista e membro do conselho econômico da Paróquia de Santo Afonso, “se dom Odilo Scherer seguisse a linha do papa, teria no mínimo nos atendido”. “Nós queremos que a igreja nos ouça, porque nós somos a igreja.” O pároco da Santo Afonso, Márcio Manso, é considerado moderado.
Cássia conta que o vigário episcopal da região do Ipiranga, padre Anísio Hilário, foi a única autoridade que recebeu os paroquianos.
“Ele disse que o que está decidido, está decidido e ponto. Ainda não temos uma justificativa e não consigo entender. Dá a entender que há alguma coisa política. O papa Francisco mostra humildade, ouve o povo, e nada disso está acontecendo aqui”, analisa. “Encaminhamos um e-mail no dia 17 de dezembro a dom Odilo e até hoje não tivemos resposta, nem dele nem de qualquer assessor.”
De acordo com os fiéis, a forma das transferências viola os artigos 1.740 a 1.752 do Direito Canônico, que determinam que um padre só pode ser removido de sua paróquia por motivo de escândalos e questões morais, financeiras etc., que coloquem em risco “a salvação da alma dos fiéis”. A reportagem tentou, sem sucesso, contato com assessoria de comunicação da Cúria Metropolitana.

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